Os impactos da Covid-19 foram severos frente à população em geral. Como ficam os profissionais de saúde?
Olá, comunidade!
Dando continuidade à nossa discussão de ontem sobre “A promoção da saúde mental dos trabalhadores dos serviços de saúde mental” na nossa última sessão do primeiro Ciclo Coopere, trazemos algumas informações sobre adoecimento psíquico entre profissionais da saúde mental no Distrito Federal durante a pandemia de Covid-19. A pesquisa foi realizada pela Fundação Oswaldo Cruz Mato Grosso do Sul (Fiocruz MS), em parceria com a Fiocruz Brasília e pesquisadores de diversos centros de formação públicos do Centro Oeste.
Os dados apresentados aqui se referem ao levantamento realizado de dezembro de 2020 a abril de 2021 e contemplam diversos níveis da atenção à saúde e áreas do conhecimento, com profissionais de enfermagem, odontologia, medicina, farmácia e fisioterapia. Essas informações também são relativas à primeira fase da pesquisa, a qual buscou avaliar a presença de sintomas dos transtornos de depressão, ansiedade e estresse. A segunda fase, não abordada aqui, diz respeito à identificação de estratégias utilizadas no enfrentamento desse sofrimento em relação ao momento em questão.
A pandemia de Covid-19 foi um momento atípico para a população em geral. O medo da contaminação pelo vírus, o distanciamento social e a perda de familiares, amigos e conhecidos causou sofrimento intenso em diversas pessoas. Os profissionais de saúde, além de passar por todas essas questões – afinal não deixam de ser cidadãos – ainda tiveram que enfrentar diversos desafios na linha de frente do combate ao vírus. Dessa forma, se faz necessária pesquisas como essa, que avaliam as repercussões desse contexto na saúde mental dos próprios profissionais.
Participaram da pesquisa 831 profissionais da saúde em geral, apesar de que nem todos responderam a todos os instrumentos. O material fruto da pesquisa foi sistematizado e permitiu a produção de conhecimento e análises sobre esse tema, que serão detalhadas a seguir.
Dados da Escala DASS-21
As respostas indicaram presença de sintomas variáveis, ou seja, de leve a extremamente severo, nos transtornos de: estresse (65%), ansiedade (61,6%) e depressão (61,5%).
- Ansiedade: 11,4% apresentaram sintomas leves, 9,3% para moderado e 7,1% para severa;
- Depressão: 21,4% para extremamente severa, 19,4% moderada e 11,1% para severa e 9,6% para leve;
- Estresse: 20,6% para severo, 19,5% para extremamente severo, 15,4% para moderado e 9,5% para leve.
A partir dessas informações, percebe-se que os níveis dos sintomas estavam altos e que há necessidade para intervenção de acolhimento e cuidado com essas pessoas.
Informações sobre os profissionais
- Áreas de atuação: 72,4% da enfermagem, 11,8% médicos, 6,5% farmacêuticos, 5,1% fisioterapeutas, 4,2% da odontologia;
- Nível de escolaridade: 43,7% com especialização, 23,6% com formação técnico/auxiliar, 23,4% com mestrado e 1,7% com doutorado;
- Local de atuação principal durante a pandemia: 52,2% em hospital/pronto atendimento, outros locais em 27,9% e 15,3% na Atenção Primária;
- Carga horária semanal predominante: 42,6% com 31 a 40 horas, 21% com 41 a 50 horas;
- Saúde física auto-percebida: 38,3% com moderada, 38% com boa, 15,2% com ruim e 8,5% com excelente;
- Saúde mental auto-percebida: 38,7% com moderada, 33,8% com boa, 21,3% com ruim e 6,3% com excelente;
- Sensação de segurança frente às medidas tomadas pelo serviço para a diminuição de risco de contágio:44,2% parcialmente seguros, 29,8% não seguros e 26,0% seguros.
Os dados apresentam resultados significativos frente à categoria da enfermagem, que é a categoria mais presente quantitativamente no sistema de saúde pública. Além disso, chama a atenção que a maioria dos profissionais trabalha em hospitais/pronto atendimento e há um significativo percentual deles com carga horária superior a 40h/semana, que é a carga horária oficializada nos serviços.
Para complementar, indicamos o documentário “Saúde mental de quem atua na linha de frente de combate à pandemia” da TV Justiça, publicado em Abril de 2021.
Quais outros pontos podem ser ressaltados em relação aos dados? Como foi sua experiência, enquanto profissional ou usuário, da sua saúde mental na pandemia?
Referências
Fiocruz MS e Fiocruz Brasília. SAÚDE MENTAL DOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE NA PANDEMIA DA COVID-19 EM MS E DF. RELATÓRIO PARCIAL DESCRITIVO DO DF. Disponível em: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/wp-content/uploads/2022/02/relatorio_parcial_saudemental_profissionais_DF.pdf
TV Justiça Oficial. Documentário – Saúde mental de quem atua na linha de frente de combate à pandemia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gqGXAeC5Fac
